Provar que as
liberdades de expressão e artística não estão acima da dignidade humana é
mais uma das tarefas postas na luta anti-racista brasileira. A arena
dessa vez podem ser os tribunais, e o réu, um dos grupos mais poderosos
do país: as Organizações Globo. Para isso acontecer, basta um punhado de
organizações sociais denunciarem o personagem Adelaíde do humorístico
Zorra Total por afrontar os direitos individuais e coletivos da
população negra.
O advogado está
afiado com as armas jurídicas para entrar com um processo: "Isso é o
que a jurisprudência qualifica como dano moral. Não é só proibir, o mas
indicado é fazer a ação coletiva". A experiência de Adami está balizada
por casos recentes que movimentaram a opinião pública brasileira. Ele já
representou um coletivo de dez entidades de mulheres negras contra uma
letra da gravada pela Sony do agora deputado federa Tiririca. Ao final a
batalha foi vencida, e a Sony foi autuada a pagar uma indenização
recorde de R$ 1,2 milhão. Humberto rememora que o caso começou com
quatro entidades, e era acompanhado pelo procurador da República, e hoje
ministro do STF, Joaquim Barbosa. Passado o tempo, Barbosa viajou para
os Estados Unidos, e o relator disse que a Criola, organização
impetrante, não exprimia o sentimento das mulheres negras. "O caso
estava sem advogado, até que um judeu me alertou no fórum. Procurei a
articulação de mulheres e o caso passou a caminhar"
Conquistas como
essa não são rotineiras para advogados que combatem o racismo. Adami
construiu o mandato de segurança à presidenta Dilma e o Conselho
Nacional de Educação devido a utilização das "Caçadas do Pedrinho"
escritas pelo eugenista Monteiro Lobato no material didático da rede
escolar. O Conselho de Educação chegou a concordar, mas recuou, e passou
a responsabilidade na interpretação aos professores na sala de aula. "
Não é uma questão de liberdade de expressão, mas as regras e princípios
educacionais. Já aplicaram pena de detenção sob o caso de nazismo num
livro no Rio Grande do Sul", indigna-se Adami.
Durante sua
trajetória Adami teve passagem na ouvidoria da Secretaria de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), e um dos questionamentos dos
movimentos negros foi endereçado aos meios de comunicação devido a falta
de espaço no debate das cotas raciais. Houve abertura inquérito via
Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF), e o ministro na
época, Edson Santos, tinha entendimento de dar continuidade a ação,
relata Humberto Adami: "Saíram críticas a ação de entidades como a ABI.
Mas eles têm obedecer as leis do país, e a melhor forma disso acontecer é
fazer ações de danos morais, onde ficam observadas as liberdades". No
caso das peças publicitárias, como a da Devassa e as fraldas Turma da
Mônica, o advogado diz que o Conselho Nacional de Autorregulamentação
Publicitária (Conar) tem sido receptivo: "É importante que se faça esse
tipo de denúncia. Eles não recebem demanda, não conhecem o tema".
Outro caminho
defendido por Humberto Adami é o Estatuto da Igualdade Racial: "Muita
gente critica o Estatuto, se não é o melhor, é o que temos e a
conjuntura possibilitou. O Estatuto deveria ser mais exigido, e não só
Seppir, mas todos os órgão "Pir" espalhados pelo País".
Fonte: Correionago
Fonte: Correionago
Nenhum comentário:
Postar um comentário